IA como infraestrutura: o novo DNA das empresas que querem liderar
Por Fábio Rosato - Diretor Executivo na Sensedia

Você ainda trata inteligência artificial apenas como um assistente? O jogo agora é outro. IA não é só produtividade, não é só o copiloto. A IA como infraestrutura está se tornando parte vital do núcleo de negócio das empresas, o novo DNA de quem quer liderar.
Muita gente ainda está fascinada e presa às jornadas de IA como copilotos que geram e-mails, resumos, sugestões de planos, imagens e tudo o que a criatividade dos prompts permite. Há alguns anos, isso era o sonho. Hoje, já se tornou o básico, e é natural criarmos novas expectativas.
Inovações destravam novas oportunidades, e o que realmente está transformando as empresas e separando quem vai continuar crescendo de quem vai virar espectador é outra abordagem: é a IA operando como agentes nos processos de negócio das empresas. A IA agindo, decidindo e transformando como os negócios das organizações funcionam.
Costumo usar uma analogia simples. Copiloto, um assistente baseado em IA, é como o patinete elétrico: você vai mais rápido, mas ainda precisa pilotar, prestar atenção, frear e desviar de obstáculos. Existe um esforço cognitivo para pilotar o patinete, qualquer distração pode custar um tombo ou algo pior. Já o agente, é o carro autônomo: você entra, escolhe o destino, e deixa a IA embarcada no carro fazer o trabalho. Nas ondas de ascensão da inteligência artificial, estamos saindo do patinete elétrico e entrando no carro autônomo. E isso muda tudo.
A estimativa é que essa nova infraestrutura possa empilhar até US$4,4 trilhões por ano na economia mundial. É dinheiro novo, valor novo, sendo criado por empresas que entenderam ou irão entender que IA é parte integrante do seu negócio, e um novo jeito de operar as empresas.
Ponto de virada na utilização da IA
E o que diferencia as empresas que lideram? Foco, direção e coragem para fazer escolhas difíceis, ou seja, saber dizer não na priorização. Elas estão redesenhando processos, ofertas e times em uma abordagem centrada na IA. Alocam mais de 80% dos investimentos de inteligência artificial em áreas críticas, porém focam em poucas iniciativas, e assim avançam com profundidade em cada uma delas. Seguem um princípio simples: foco gera impacto, dispersão gera desperdício.
É o início de uma nova onda. O momento dos agentes inteligentes. A consultoria Gartner prevê que, até 2030, 40% das grandes empresas utilizarão AI Agents em processos críticos. Esses agentes, que aprendem, se adaptam, tomam decisões e executam ações com base em contexto e objetivos, vão compor o novo motor operacional das organizações.
Agentes inteligentes são diferentes dos assistentes. Eles não apenas respondem e interagem com humanos em contexto conversacional. Eles agem, são proativos, têm autonomia, operam APIs (Application Programming Interfaces), interagem com sistemas legados, aprendem com a prática e tomam decisões. Eles executam tarefas como se fossem um colaborador dentro da empresa. Um bom agente pode ser autônomo ou semi autônomo.
Mas aqui está a provocação: IA não entrega nada sozinha e a maior barreira não é técnica, mas cultural e estrutural. São processos ineficientes, dados fragmentados, medo da mudança e a ausência de patrocínio executivo. IA como infraestrutura exige um novo modelo mental, onde decisões são automatizadas, dados são tratados como ativos vivos e o ser humano é reposicionado para atuar onde realmente importa.
O que isso significa na prática?
- Repensar processos, substituindo fluxos lineares e centrados em pessoas por orquestrações digitais, com AI Agents operando de forma autônoma e colaborativa.
- Tratar dados com seriedade, garantindo conectividade, qualidade, governança, segurança e semântica. Dados mal estruturados não alimentam decisões inteligentes, mas, potencialmente, produzem ruídos e provocam alucinações.
- Desenvolver talentos, porque, sem gente preparada, a IA vira PowerPoint. E o Brasil, infelizmente, ainda está atrás: apenas 20% das empresas investem de forma estruturada em formação em IA, segundo a consultoria BCG (abaixo da média global, que é de 29%, e bem distante do líder, Singapura, que está com uma taxa de 44%).
- Mobilizar a organização como um todo. Não adianta empurrar a tecnologia se a cultura ainda resiste ou se a liderança não está engajada. IA como infraestrutura exige clareza estratégica, mudança de mentalidade e execução com disciplina.
É aqui que IA deixa de ser um projeto de inovação e vira parte da infraestrutura. Isso significa que não se trata mais de “usar IA”, mas de “funcionar com IA”. Significa que agentes inteligentes serão parte ativa da engrenagem das empresas: lendo sinais, decidindo, executando, com autonomia, orquestração via APIs e aprendizados contínuos. A mudança é radical, mas o ganho é proporcional.
Impacto sistêmico gerado pelos agentes
Existe um terreno fértil de problemas de negócio no qual esse novo conceito de arquitetura empresarial pode ser uma alavanca, em diferentes indústrias. Esteiras de crédito, com múltiplas variáveis e decisões com melhor qualidade; agendamento de cirurgias, com mil burocracias que podem ser automatizadas; vendas, onde o agente pode revisar oportunidades paradas no CRM, sugerir abordagem, enviar propostas e até acionar o financeiro para emissão automática de nota fiscal. Nada disso é ficção. Já está acontecendo. A diferença é que poucos estão fazendo com profundidade e em escala neste momento.
No fim, vencer com agentes inteligentes não é sobre uma ferramenta. É sobre transformação. É sobre ter clareza estratégica, saber onde quer chegar, escolher os casos certos, envolver as pessoas certas, treiná-las, medir impacto e escalar com consistência. Não dá pra sair abrindo 15 frentes. Melhor começar pequeno, bem feito, com valor real e avançar rápido.
IA como infraestrutura é o novo normal de quem quer escalar com eficiência e inovar com impacto. As empresas que internalizarem isso vão liderar. Na Sensedia, estamos respondendo a esse movimento com o AI Agents Lab — um hub voltado à criação de agentes inteligentes empresariais. Nossa visão: ajudar empresas a descobrir, desenhar, treinar e orquestrar agentes em escala, integrados com APIs e sistemas legados, com segurança e propósito.
As empresas do futuro não serão as que usam IA para melhorar o trabalho de hoje, mas as que operam com IA como infraestrutura para criar funções e ofertas que antes eram impensáveis.